sábado, 6 de setembro de 2008

CRISÁLIDA


Era. Foi embora. Todo aquele jeito, ar teórico, explicação dos sentimentos.
Foi embora. Sentia tudo repleto de cores: sua alma continha o mundo todo. Azul, grená, mares do sul, anêmonas, vozes, cristais, luz de fogueira, São Sebastião, Istambul.Falava num suspiro. Fechava os olhos, sentia. Ecos, imagens, símbolos. Como uma tarde fria, cinza, confortante.
Tudo passava por si, como um espetáculo de raios em céus variados. Raios lindos, fortes, trazendo mais vida, calor.Sua pele, seus pelos... corpo largado na cama, olhos fechados e a alma vagando por todos lados. Corria num temporal, achava um rio de água quente e pulava num mergulho emocionado, como se sentisse sua pele como nunca antes. Descobria a origem da vida ao som intenso de violoncelos singelos; ao fundo, uma orquestra de grilos da madrugada.
Imaginou se tivesse uma vida diferente. E se morasse numa casinha branca, pequena, que desse para uma estrada de chão? Olharia sempre pela janela, correndo os olhos à procura de símbolos?
"Símbolos?. Estou farto de símbolos..."
É forte. Encanta. Transforma. Cura. Trabalha. Enlouquece. Parte. Lembra. Vive. Seduz.
Emerge do fundo do mar em uma concha, cria asas e ganha o céu.

Brasília, 14/11/1994.

Nenhum comentário: