quinta-feira, 10 de junho de 2010

Mais um caminho, uma próxima parada.


E daqui, desse ponto ainda não conhecido, para onde?
E daí, quais serão, nesse momento que há de vir, as convicções?


Esses dias mesmo estive conversando com uma senhora, colega do grupo das "Bandeirantes", do qual faço parte. A gente se reúne todas as tardes de terça, num espaço para criar artesanato, que é vendido e revertido em grana pro's projetos sociais que o grupo executa, em parceria com as comunidades assistidas. O assunto era: como eu me sinto estrangeira, como às vezes tenho vontade de viver coisas totalmente diferentes das que vivo.


Essa insatisfação já foi muito forte. Como se eu precisasse urgentemente dar um rumo novo aos acontecimentos da minha própria vida. E ficava incomodada com a lentidão das transformações, que no fundo não eram nada daquilo que eu imaginava ou pretendia viver.


Ela quis saber mais e eu dei alguns detalhes, quando vi estava numa reflexão em voz alta com alguém que nem conhecia bem, só do meio das linhas, agulhas, fuxicos, reclamações de doença, expressões de amizade...Ela é museóloga e eu nem sabia. E de repente fomos falando, costurando os desejos...


Minha interlocutora narrando os fatos de sua adolescência, dos passeios de bonde no Rio, de quando decidiu trabalhar numa época em que mulher era dona de casa. E sua mãe dizia: "estranho essa menina estudar tanto, vc não acha, fulano?" E o marido de minha amiga respondia:"deixa, D.fulana...Já ela cansa, enjoa..." E linda, ela disse entre risos: "não enjoei até hoje!"


Foi um barato.


O assunto na verdade começou quando eu apontei uma lata linda, antiga, de "Leite Moça", que estava cheia de carretéis em cima da mesa. Comentei, entusiasmada, que era apaixonada por objetos antigos, ao que me respondeu:"você devia ser museóloga". E depois soube que ela era.


E aí, pensei: meus interesses é que são muitos, é óbvio que não consigo viver tudo o que gostaria...Não chega a ser um distúrbio psi - hehe! - é o preço que paga o criativo. É o caso de quem sempre quer viver coisas novas, abarcar ondas, cheiros, sons, sonhos, luzes diferentes. E é bem característico da minha geração, embalada por Cazuza e seus exageros.


Hoje a ânsia já não é tanta. Já não dói mais pensar no que poderia. Já consigo encontrar graça no que poderá, brevemente.
E aos poucos a gente vai sendo bordadeira, museóloga, mãe biológica e social, cantora, produtora, namorada, fotógrafa.


Porque somos múltiplos.